Era o cruzeiro dos sonhos de muitos, mas, só quem realmente poderia pagá-lo eram barões, empresários, políticos, enfim, pessoas muito ricas – o que não era o meu caso -.
Acabei por ganhar uma passagem do meu tio - um coronel respeitado em Manaus –, eu não sabia de que jeito demonstraria toda minha gratidão, afinal, acabara de completar dezoito anos e poderia comemorar ao lado de várias mulheres ricas e lindas, por sinal.
De repente, percebi que o navio tinha parado, corri até o comando para saber o que tinha acontecido. Ao chegar lá, vi que não havia ninguém, procurei por todos os cantos, não conseguia ver ninguém. Desesperei-me, a ponto de fechar os olhos e balançar a cabeça. Foi quando tudo parecia voltar ao normal.
Uma moça parou ajoelhando-se aos meus pés, gritando: “Salve minha criança! Salve minha criança!”. Busquei sua filha ao seu redor, mas, antes que perguntasse onde estava, a moça já havia partido. Percebi que o navio estava naufragando, assim que corri mais desesperado, todos ao meu redor, puseram-se a andar como se nada tivesse acontecendo. – Fiquei confuso –. Por um momento achei que estava louco.
- Você não vê? Estamos afundando. – Tentei alertar a todos, no entanto, aquelas pessoas já tinham essa noção, tanto é que suas faces estavam tristonhas e conformadas. Parei por um instante, para procurar respostas para o meu delírio, já que todos me ignoravam. Assim que algumas perguntas iam-me surgindo, algumas delas eram imediatamente respondidas. O que me azucrinava a mente, era por que aquelas pessoas não tentavam se salvar? Foi quando todos começaram a replicar:
- Todos nós já estamos condenados! – Tentei combater esse pensamento, mas foi em vão.
Esse cruzeiro, por levar pessoas importantes, foi homenageado, com um cemitério especial, criado só para os passageiros e tripulantes do navio. Hoje vim visitá-lo, é a primeira vez que venho aqui desde aquele dia. Uma tumba me chamou atenção, era a mais bem conservada, e a que mais brilhava, os parentes estavam lá chorando a morte de um ente. Movido pela curiosidade, fui até lá.
“Jaz aqui o que era para ser um mais novo homem na sociedade.
Fernando Moura Dos Santos
18/05/70”
Fiquei espantado, ao ver minha foto e o meu nome junto à tumba.
Escrito por Célio Renan
quarta-feira, 15 de julho de 2009
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